Esqueça o corpo e sublime-se...

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Seja muito bem vindo ao novo blog sobre as Artes dramática e cinematográfica.

Este blog foi criado no âmbito da disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação do Mestrado de Ciências Humanas e Sociais.
É dirigido a Técnicos de Investigação Artística, a Animadores Sócio-Culturais, a Atores, a Encenadores, a Realizadores, a Críticos de Arte, a Professores ou Formadores e a qualquer pessoa que tenha curiosidade em aprofundar ou debater estes temas.

Sinta-se à vontade para comentar, pois é da discussão que se cria o Caos e é do Caos que nascem as Estrelas!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"The man with the movie camera"... hey Dziga Vertov!

"Atenção espetadores:
Este filme é um experimento na comunicação cinemática de eventos reais. 
Não tem a ajuda de interlúdios. 
Não tem a ajuda de uma história. 
Não tem a ajuda do teatro. 
Este trabalho tem como objetivo a criação de uma verdadeira linguagem internacional de cinema, 
estruturada na sua absoluta separação da linguagem do teatro e da literatura."




O cineasta, documentarista e jornalista russo Dziga Vertov inseriu-se no movimento estético construtivista russo. Fundou o grupo de documentaristas Kinok, que eram apologistas do progresso mecânico, criaram o conceito de Cine-Olho, e inseriram no meio cinematográfico a ideia de Verdade no cinema.

O grupo de documentaristas Kinok escreveu o Manifesto(1919) que pretendeu afirmar a independência da arte cinematográfica.
O Manifesto descreve as influências do, adverso, cinema americano em relação à velocidade conferida às imagens e à utilização de grandes planos, pois no geral este tipo de cinema era considerado desordenado e pouco fundamentado.

O futuro da arte cinematográfica afirmava-se como negação do seu presente, procurando um ritmo próprio distante de outros tipos de arte, como a literatura, música ou teatro. O espaço cinematográfico foi assumido em 4 dimensões, incluindo o tempo.


O progresso tecnológico teve uma enorme influência no kinokismo, pois pretendia-se equiparar o Homem à exatidão da máquina. Logo, o novo homem tornou-se no tema nobre dos filmes.


Está aconselhada uma metodologia para todos os teóricos cinematográficos, que se baseia no conhecimento do metro, do ritmo, da natureza do movimento e da respectiva disposição rígida relacionada aos eixos das coordenadas da imagem, ou suas dimensões. É exigido do movimento: necessidade, precisão e velocidade. Quanto à edição, a montagem deve representar um resumo geometrizado do movimento, obtido através da alternância das imagens.

Ao contrário do que os filmes de Vertov dão primeiramente a entender, o material é constituído pelos intervalos, e não pelo movimento em si. Estes conduzem a ação para o desdobramento cinético. A organização dos elementos (dos intervalos na frase), divide-se em cada frase por ascensão, ponto culminante e queda de movimento; considerando a obra feita por frases, e cada frase feita por intervalos de movimentos.

O kinok deve anotar com precisão um cine-poema após a sua concepção. Para tal, é necessário um conhecimento prévio dos signos gráficos do movimento, chamado de cine-gama.
O kinokismo também permite a realização do irrealizável, pela imaginação do movimento de objetos no espaço.

A Resolução do Conselho dos Três, escrita em 1923, focou os problemas que o kinokismo pretendia resolver; a situação cinematográfica da época era então considerada desfavorável, pois notava-se uma aliança forte entre o capitalismo e a arte.
O Conselho dos Três descura a autoria porque considera imperativo a publicação imediata dos princípios e das palavras de ordem da revolução. No livro Revolução Kinok, Vertov explica o carácter da revolução.
O primeiro ponto aborda a repudiação de todos os filmes, sem exceções.
Também refere que a utilização do cinema noutros sectores científicos é aprovada, mas, somente, como função acessória; pois o essencial é a cine-sensação do mundo.
É defendido o uso da câmara como cine-olho porque esta capta, colhe e fixa, com maior perfeição os fenómenos visuais que enchem o espaço. O olho humano tem limitações que não se encontram na mecânica. Assim, a câmara distanciou-se da imitação e da cópia, pretendendo seguir na direção contrária.
O segundo ponto do livro aborda a possibilidade do realizador direcionar o espetador para os fenómenos visuais pretendidos. A câmara pode focar, em determinada ordem e organização, os detalhes, pela utilização da montagem.
O terceiro ponto enfatiza o papel do montador e a inovação do Cine-Olho, na criação de fenómenos aparentemente irrealizáveis.
No quarto ponto é ressaltada a nova percepção do mundo, oferecida pelo Cine-Olho, afirmando-o como um movimento contínuo. O Cine-Olho permite combinações complicadas e justaposição de movimentos.
Por fim é referida a importância sonora na visualidade do cinema. Às impressões visuais devem ser retirados elementos supérfluos, para que fique apenas um resumo organizado destas, recebidas pelo olho comum.
O Cine-Olho busca um movimento próprio, fazendo experiências de estiramento, de fragmentação ou de absorção do tempo, inacessíveis ao olho humano.
O piloto-kinok é apontado como ajudante da máquina, dirigindo os movimentos da câmara e entregando-se a esta para vivenciar o espaço.
De seguida, estão descurados os dramas psicológicos ou policiais no cinema, pois pela montagem e respetivos intervalos conseguem-se introduzir temas políticos ou económicos de uma maneira subtil.

No Nascimento do Cine-Olho, de 1924, encontra-se uma teorização mais específica.
Cresceu o desejo de captar sons documentais na imagem, não pela descrição mas sim pela inscrição, como se estes pudessem ser fotografados. Organizou-se assim um novo Universo audível e visível no cinema da época.
O Cine-Olho nasce como uma cine-análise, como “teoria dos intervalos”, ou teoria de relatividade na tela; subentendendo todos os meios e invenções cinematográficas, processos, métodos, e tudo o que pretendia mostrar a verdade. Deste modo, aliou-se o Cine-Olho ao Cine-Verdade.
O Cine-Verdade mostrava a realidade humana, sem representações fictícias, como se as pessoas fossem desnudadas completamente pela câmara; tornando visível na tela o que anteriormente era invisível; ou até transformando o que era mentira em verdade.

No Extracto do ABC dos Kinoks estão sintetizados os métodos de montagem, e os conceitos de Cine-Olho e Rádio-Olho.
A montagem é definida como organização das filmagens sem desvios teatrais, como a escolha de cenas, ou desvios literários, como a utilização de legendas. É considerado que o filme está em montagem ininterrupta, desde a escolha do tema até à edição definitiva.
A montagem é dividida em três fases. Primeiro inventariara-se todos os dados documentais que tenham alguma relação com o tema; para se revelar o plano temático. Seguidamente trata-se do plano de filmagem, que é o resultado da selecção e triagem das observações humanas. Finalmente faz-se a montagem final que é o resumo das observações inscritas na película pelo Cine-Olho; obtido através da associação das filmagens do mesmo tipo e do seu encadeamento rítmico e visual.
O Cine-Olho está definido como montagem na escolha do tema, nas observações feitas para o tema, e no estabelecimento da ordem de sucessão do material filmado.
A progressão de imagens é uma unidade complexa, formada pela correlação de planos, enquadramentos, movimentos no interior das imagens, luzes, sombras, e velocidades de imagens. Desta maneira, o autor determina a ordem de alternância ou sequência das filmagens, e o comprimento de cada alternância.
O Rádio-Olho foi definido pelos rarioks como um cinema sonoro não encenado.
Em suma, O décimo primeiro ano(1928), ou O homem com a câmara(1929) foram feitos como filmes visíveis e audíveis, e são bons exemplos do tipo de cinema defendido pelos kinoks.

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